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Um nome para o pecado ElianaYunes
AVAREZA
GULA
INVEJA
IRA
LUXÚRIA
ORGULHO
PREGUIÇA
O PECADO DO CAPITAL |
Há algumas décadas atrás, Chico Buarque, grande compositor brasileiro, disse em urna de suas canções que "não existe pecado do lado de baixo do Equador." Parece que as coisas mudaram desde então neste hemisferto. Ou então o lado de cá do Equador readquiriu a consciência e o sentido do pecado, que os ultimos papas temiam haver sido perdido pela humanidade no final do milênio que passou.
Foi isto ao menos que pareceu demonstrar o grande sucesso alcançado pelo ciclo de mesas redondas organizado pelo Centro Loyola de fe e cultura, pelo Departamento de Letras e pela Pastoral da PUC-Rio sobre Os sete pecados capitais em maio de 2000. Com salas cheias e grande número de jovens em sua audiência, as mesas trouxeram a baila reflexões novas sobre antigos e mais que humanos pecados: a inveja, a ira, a preguiça, o orgulho, a avareza, a gula, a luxúria. Segundo o Novo Catecismo da Igreja Católica, o pecado e uma falta contra a razão, a verdade e a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana (o 1849) Ainda segundo o Novo Catecismo, os sete pecados capitais são assim chamados porque geram outros pecados, outros vícios (o. 1866). Tal como a cabeça que comanda o corpo e todos os seus membros, os pecados capitais (segundo o Aurélio: relativo à cabeça; principal, fundamental, essencial, primario) são a fonte de inumeráveis outros, que afastam o ser humano de sua verdadeira vocação e do exercicio feliz de sua liberdade solidária. Afastam-no também, por conseguinte, do amor do Criador e dos seus semelhantes. Este livro deseja trazer a público o fruto daqueles dias tão ricos de reflexão e debate. Apresenta o conteúdo das mesas redondas, sempre com participação pluridisciplinar de professores da PUC-Rio e pensadores de outras instituições e diferentes áreas do saber. As colocações dos componentes das mesas eram sempre precedidas por um pequeno texto literário a propósito do pecado em questão, narrado por componentes do grupo de contadores de histórias Pode Crer, da PUC-Rio. Assim, a inveja, a ira, a preguiça, o orgulho, a avareza, a gula e a luxúria foram narradas teatralmente e refletidas especulativamente, antes de serem debatidas coletivamente. Após as sete mesas sobre os sete pecados, o ciclo foi encerrado com uma mesa final chamada "Os pecados do capital". Recolhia, assim, uma tônica da reflexão ali acontecida: os pecados nunca são meramente individuais. As estruturas nas quais o indivíduo se encontra mergulhado também são pecaminosas e até mesmo demoníacas. Um sistema que privilegia o ter sobre o ser, que incita à acumulação egoísta de bens em detrimento do bem estar Da comunidade e da sociedade é um sistema pecaminoso e gerador, também ele, de pecados. Assim se pronunciaram quase todas As mesas, como que preparando o desfecho sobre os pecados do capital. Por outro lado, o leitor poderá igualmente verificar que, seguindo o veio que a Teologia hoje traz bem patente, a reflexão lúcida e mordente sobre o pecado trazia também, sempre, no seu bojo, o carinho para com o pecador. O pecado é cometido por pessoas humanas, vocacionadas para a plenitude da virtude e o exercício sem freios do amor. Muitas vezes, o pecado é o avesso das pulsões positivas de amor e solidariedade que não chegam a manifestar-se ou se manifestam equivocada e distorcidamente. Muito freqüentemente, portanto, a profundidade da queda dá a medida da vocação. O ciclo dos pecados capitais deixou claro, pois, que se existe pecado do lado de baixo do Equador não é para que o ser humano desespere de si próprio e de seu destino e futuro. Mas para que possa, cada vez mais, viver sua dignidade e aquilo para o qual é destinado em sua condição de criatura: ser imagem e semelhança dAquele que amorosamente o desejou e criou, desde antes da fundação do mundo. Maria Clara Lucchetti Bingemer |
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