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"Há que se afinar o corpo até o último sempre. Exercer-se como instrumento capaz de receber a poesia do mundo".

É assim que Bartolomeu Campos Queirós inicia o seu livro-poema Minerações, um dos mais participantes de sua obra participante. Sim. Obra participante no sentido mais alto da palavra, porque comprometida com o Homem e seus anseios de Liberdade, sintonizada com a Natureza e sua ânsia de Vida.

O Poeta se afina, corpo e alma, "até o último sempre", como instrumento sensível que é. E, afinado, capta a música do mundo - as ressonâncias do silêncio, os acordes do inaudível. Capta a dança do mundo - os ritmos latentes, os frêmios imperceptíveis do espaço-tempo. Capta a poesia do mundo - os sons da vida em segredo, os sussurros inaudíveis do eterno.

Mas não apenas capta, não apenas apreende a essência inapreensível. Afinado até a última corda, no fundo do ser - Alquimista que é - o Poeta decompôe ritmos, imagens e sons, para criar uma nova música verbal, uma nova poesia. E do fundo do seu Eu demiurgo, brota um mundo novo, novinho como no primeiro dia da criação. Um universo reinventado.

Assim é a poesia de Bartolomeu Campos Queirós, feita de palavras, como queria Mallarmé, porém, mais difícil para a percepção do leigo, porque sem os artifícios do verso. Mas para que versificar? Precisa disso quem é capaz de penetrar no âmago das coisas e de lá extrair a realidade mais profunda? Precisa disso quem, em ato de mágica, da matéria do inefável faz Poesia?

Por tudo isso, a música-dança-palavra desse Poeta que atende pelo nome Bartolomeu Campos Queirós se constituiu numa das vozes mais puras da poesia brasileira de agora.

Ângela Vaz Leão