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Livre de artifícios, e em pura poesia, o texto de Bartolomeu Campos de Queirós corre límpido, forte e solitário.
Na tentativa de alcançar a fronteira onde transcende o perecível, estabelece uma tensão antagônica quando a palavra se faz curioso jogo de elementos não naturalistas e aponta, em grau mínimo, para a ação. O clima de uma narrativa essencialmente psicológica transcorre sem descrições realistas ou intenção social.

A Fome, principal personagem, básica e primitiva, se arrasta em ritmo lento, contagiada pelo cansaço, esbarrando em paredes feitas de metáforas - onde paradoxo extremo - se fortalece e se nutre o leitor. No suavíssimo recurso imagístico da lua-que-alimenta, serena essência do feminino, o poeta permanece fiel ao impulso da anima, mas registra, na rápida movimentação da trama em direção ao desespero, a representação do animus, dupla dialética que se resolve e se matiza na própria diferença. De Não em Não, repetida negativa, apenas reafirma, e inaugura, uma vez mais, a inconfundível e impecável criação literária de Bartolomeu Campos de Queirós, de quem a visão crítica não anula o profundo e denso lirismo. Antes, o amplia, justificando o sentido do testemunho humano diante da miséria e da grandeza que convivem tão próximas, dentro da vida - lugar onde se encena o drama do homem arcaico do qual todos descendemos.

Maria Lúcia Simões