Sinopse | Poema | Volta

O que há de invulgar na prosa de Bartolomeu Campos Queirós é uma leveza, uma transparência que não se traduz em superficialidade. Antes, constitui uma abertura para regiões profundas da comunicação poética.

Por isto, sua expressão consegue ser, ao mesmo tempo, simples e densa. Ler o seu texto é envolver-se de imediato com a magia das palavras, é seduzir-se com a beleza e a musicalidade da prosa.

Ah! Mar denuncia, na vivência montanhesa, uma vocação fluvial, a correr hipnotizada pela tentação do oceano. Realiza-se na atmosfera do sonho e da poesia.

Ah! Mar descreve uma emigração do homem das montanhas para o mar. A transmigração se dá pelo apelo imemorial das águas. Mas, no sulco da viagem, cava-se também a nostalgia da paisagem que se abandona.

Bartolomeu Campos Queirós tece a fantasia da criança montanhesa, que sonha eternamente com as dimensões oceânicas. Procura resolver a contradição entre as profissões de garimpeiro e marinheiro. E entrega-se ao sortilégio das águas infinitas. 'Longe do mar inventa-se um oceano' diz o narrador. Mas, conclui o texto, 'nascendo entre montanhas não se chega a navegar'.

A passagem de uma situação a outra constitui a duração do texto, pontilhado de poesia e encantamento.

Fábio Lucas