| Antes do Depois
"Lembro-me das muitas dores que senti ao nascer.
Vivia feliz onde estava guardado. Nascer foi um desrespeito com a minha paz. Estava vivo sem saber que vivia. O mundo tinha cor demais e me cegava. Cada pessoa trazia um rosto diferente e me confundia. Os barulhos eram fortes e me feriam os ouvidos. O mundo não era de todo bonito. Tinha seus espantos. Meu primo, .com seu rosto redondo igual melancia, com cabelo repartido ao meio, chamado Natalino por ser irmão da Natália, me causava riso. Eu não podia falar porque nã~ havia decorado as palavras. Tinha vontade de me intrometer nas conversas, dar palpites, mas não havia maneira. Chorar ou não chorar era tudo o que a vida me permitia. E se eu fazia caretas, êles liam que eu estava sorrindo.
Fui obrigado a escutar os elogios mais chatos: "ele é tão bonitinho", "parece um anjinho", "só vai trazer alegria", "tem um riso tão meigo", "tem os olhinhos tão vivos". Eu não era rato mas vivia me roendo de raiva." |
