JERZY GROTOWSKI E O ATOR PERFORMER

2. A TRAJETÓRIA DO TEATRO DE GROTOWSKI

Segundo Marco de Marinis pode-se distinguir ao menos 04 períodos nas atividades de Grotowski:

1- Período entre 1957 a 1961

Este primeiro período pode ser denominado como "Teatro de Representação", quando foi fundado o "Teatro das 13 Filas". Nesta fase Grotowski ainda era aluno da Escola Superior de Arte de Cracóvia. Ele se graduou em 1960.

Esta fase de aprendizagem (como aluno) inclui trabalhos de direção. Sua primeira direção aconteceu em 1957, com a peça "Las Sillas", de Ionesco, no Teatro Stary. Segue "Tio Vânia", de Checov, em 1958. Em 1960 dirige "Fausto", de Goethe. Dirige também as primeiras obras produzidas em Opole, com o seu novo Grupo de Teatro: "Orfeu", segundo Cocteau (1959); "Caim", segundo Byron (1960); "Mistério Bufo", segundo Maiakowski (1960); "Sakuntala", segundo Kalidasa ((1960); "Os antepassados", segundo Mickievicz (1961). Ao citar o autor das peças, Grotowski coloca "segundo fulano" e não "de fulano", para manifestar sua autonomia em relação à obra literária em que se inspirou ou da qual partiu. Para confirmar isto, ele se coloca como autor do libreto e não só como diretor.


Halina Gallowa y Jerzy Nowak em "Las sillas" de Ionesco (1957)

"Sakuntala" (1960)

Neste primeiro período, Grotowski ainda monta seus espetáculos dentro do ecletismo dramático e estético - as diferentes e ricas experiências teatrais e culturais acumuladas até este momento: Stanislawski e Meyerhold são dois pólos que estarão constantemente em seu trabalho; o conhecimento de distintas formas do teatro oriental - Katakali, Nô e Ópera de Pequim; os seminários em Aviñón, com Jean Vilar, em Praga, com Emil Burian; participação como espectador de algumas adaptações do Berliner Ensemble; a companhia de Brecht; a filosofia de Sartre; a chamada dramaturgia do absurdo; a história das religiões; a filosofia oriental. Esses são alguns elementos chaves ao redor dos quais girou Grotowski, radicalizando cada vez mais em toda a sua investigação posterior, ou seja:

  • a autonomia do teatro sobre a matriz literária (nesta fase ele já se coloca como diretor e autor da encenação teatral).
  • o protagonismo do ator e sua expressão física.
  • o contato com o espectador.

Nesta fase, o teatro desenvolvido por Grotowski ainda não conseguia público. Em 1960, quando montou "Fausto" em Opole, o espetáculo era frequentemente suspendido por falta de público.

2 - Período entre 1962 a 1969

Coincide com o momento de grande aceitação internacional, graças a alguns espetáculos memoráveis, nos quais a poética do Teatro Pobre e a experimentação das técnicas do ator chegam ao seu apogeu: "Kordian, segundo Slowacki (1962); Akropolis, segundo Wyspianski (1962); A trágica história do Dr. Fausto", segundo Marlowe (1963); "Estudo sobre Hamlet", segundo Shakesperare e Wyspianski (1964); "O Príncipe Constante", segundo Caldérom e Slowaski (1965); "Apocalypis com Figuris", montagem de vários autores (1968-1969).

3 - Período entre 1970 a 1979

No outono de 1970, depois de uma longa estadia na Índia, Grotowski anuncia a intenção de não voltar a preparar novos espetáculos, de interromper a atividade teatral propriamente dita. Passa a investigar a intercomunicação e o "encontro" entre indivíduos. Estas atividades receberam o nome de "parateatrais" e se desenvolveu durante toda a década de 70, especialmente entre 1975 e 1979, mediante uma série de "projetos especiais", articulados por uma quantidade de etapas intermediárias: Projeto Montanha, La Vigília, A árvore da gente, Meditação em voz alta.

4 - Período após a década de 70

Aos fins dos anos 70 o Teatro Laboratório entra em crise e com seus atores dispersos pelo mundo, se encerra em 1984.
O começo dessa fase foi denominado por Grotowski como "O Teatro das Fontes". Ele busca recuperar dentro de uma nova ótica, os interesses antropológicos e histórico-religiosos que havia cultivado desde muito jovem e por meio de suas viagens ao Oriente.

Sobre O Teatro das Fontes" diz Grotowski: "Reunindo as pessoas ligadas a antigas criações, religiões e línguas diferentes, tratei de encontrar entre elas uma comunicação, um Teatro das Fontes. Uma espécie de Yoga teatral onde se pudesse descobrir coisas muito simples. Desde o Monte Athos até China ou Japão, existem diferentes escolas de respiração, porém diferentes na exalação. O elemento comum que precede estas diferenças é a atenção sobre a respiração. O Teatro das Fontes se concentra mais na área de investigação do que na ação."

Cristina Tolentino ( cristolenttino@yahoo.com.br )

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