Crônica Rogério Duprat
Crônicas Musicais

Crônica Rogério Duprat

MAESTRO ROGÉRIO DUPRAT – do erudito ao Rock and Roll

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

“tudo ido e lido e lindo e vindo

do vivido na minha adolescidade

idade de pedra e paz”

Caetano Veloso (letra) e Rogério Duprat (música)

Quando você ouvir arranjos mais refinados, sons pouco convencionais e ousados nas músicas dos primeiros discos de Os Mutantes, pense no maestro Rogério Duprat.

Sabe aquela icônica capa do disco Tropicália (1968), onde aparecem na foto Caetano, Gil, Gal, Os Mutantes, Tom Zé e mais os poetas Capinan e Torquato Neto. Além deles, tem um senhor sentado, de óculos, que ironicamente segura um pinico como se fosse uma xícara. Pois este é o irreverente Rogério Duprat (1932-2006).

RD nasceu para a música: ainda criança, no Rio de Janeiro, aprendeu a tocar cavaquinho, gaita e violão. Em 1955, aos 23 anos, mudou-se para São Paulo, onde se tornou compositor e regente. Integrou a Orquestra Sinfônica Municipal e a de Câmara de São Paulo, da qual, em 1956, foi fundador e diretor.

Lecionou na Universidade de Brasília, mas a deixou, juntamente com vários colegas, devido à intervenção do governo militar. Resolveu abandonar o país. Na França, estudou com o compositor Pierre Boulez e, na Alemanha, com Karlheinz Stockhausen, ao lado do músico norte-americano Frank Zappa.

De volta ao Brasil, em 1968, gravou, ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Os Mutantes, Nara Leão e Torquato Neto, o histórico LP “Tropicália ou Panis et Circenses”, para o qual compôs vários arranjos. Ainda em 1968, ocupou o cargo de diretor musical do programa “Divino maravilhoso”, da TV Tupi (RJ).

Foi responsável pelos arranjos dos discos “Os Mutantes” (1968), “Mutantes” (1969), “A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado” (1970), “Jardim elétrico” (1971) e “Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets” (1972). Assinou arranjos para Chico Buarque (“Construção” e “Deus lhe Pague”), Caetano Veloso (“Alegria, Alegria”) Gilberto Gil (“Domingo no Parque”) e Jorge Benjor (“Descobri Que Sou um Anjo!”) .

Escreveu mais de 40 trilhas sonoras para cinema.

Nos anos 70, Duprat trabalhou com o então iniciante Walter Franco e o grupo o Terço, além de produzir jingles publicitários. Com a progressiva perda da audição, ao longo dos últimos 30 anos, Duprat foi se afastando do meio musical e se manteve recluso em seu sítio. Morreu aos 74 anos devido a um câncer na bexiga e ao Alzheimer.

Caetano Veloso afirmou que foi Rogério Duprat quem juntou Gil a Os Mutantes. Ele também destacou que Duprat era um compositor versátil, que compôs música erudita, fez arranjos para música popular, trilhas sonoras e jingles.

Segundo Tom Zé, que conviveu de perto com o maestro, um arranjo de Duprat era algo como escutar “Jackson do Pandeiro manejando uma orquestra de Beethoven”.

Trecho de entrevista com RD concedida à jornalista Ana Oliveira no site Tropicália:

Ana Oliveira: De cara, o que chamou a sua atenção na música e na atitude de Caetano e Gil?

Duprat: O desejo de abandonar a caipirice da musiquinha de esquina e de absorver a cultura universal, a música eletrônica, os Beatles, integrando novos instrumentos na música popular brasileira. Tivemos então que enfrentar os defensores da tradição, alguns até bem intencionados, mas que preferiam confinar o povo ao morro. Além disso, eu, Júlio, Damiano e Gilberto Nunes éramos muito ligados aos poetas concretos paulistas. Caetano e Gil já nos conheciam de trilhas de filmes que tínhamos feito. Seria interessante um dia estudar melhor o que nos uniu tanto.

Ana: O que lhe encantou nos Mutantes?

Duprat: O jeito mais moderno e internacional de cantar, compor e tocar. Eles eram a vanguarda do rock. O resto era o programa do Roberto Carlos. Nada contra ele, mas aquilo era uma vertente simplificada do rock internacional.

Ana: E como era o clima das gravações e das reuniões de vocês?

Duprat: Os Mutantes tinham um humor genial. E havia Lenny, um cara completamente pirado, que tocava uma guitarra espetacular. Chegou a gravar com Gal. Ainda em 68, fiz um disco chamado, à minha revelia, de A Banda Tropicalista. Usei os Mutantes em três ou quatro faixas cantando em inglês, inclusive a “Canção pra Inglês Ver”, de Lamartine Babo, toda num inglês macarrônico. E também “Lady Madonna”, dos Beatles.

Link pra quem quiser ler a entrevista de RD na íntegra:

http://tropicalia.com.br/v1/site/internas/entr_duprat.php

Livro: ROGÉRIO DUPRAT, ARRANJOS DE CANÇÃO E A SONOPLASTIA TROPICALISTA

O legado musical do maestro é analisado no livro Rogério Duprat, Arranjos de Canção e a Sonoplastia Tropicalista (7 Letras), do historiador e professor universitário Jonas Lana

Arte na foto RD: João Diniz

Revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

Portal cultural Caleidoscópio: siga @caleidoscopiobh

Para ler mais crônicas, acesse: https://www.caleidoscopio.art.br/category/cultural/cultural-musica/cronicas-musicais/

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