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Texto: Cristina Tolentino
cristolenttino@gmail.com

Como nasceu o Cubismo

Acredita-se que o cubismo nasceu no ano de 1908, onde, no Salão de Outono em Paris, foram exibidos alguns quadros do artista Braque. Nestes quadros, telhados se fundiam com árvores, dando a sensação de cubos. Henri Matisse, participante do júri, qualificou esses quadros de “caprichos cúbicos”. Daí, certamente a denominação de CUBISMO, um outro movimento de vanguarda, inicialmente aplicado à pintura e depois à literatura.

Pode-se dizer que Cubismo é a arte de decompor e recompor a realidade. Seria um fruto de um processo de construção em que o fato e a ficção se misturam. A realidade é apresentada a partir de formas geométricas, fragmentando o espaço tridimensional. Espalhava-se objetos sobre diversos planos e não transcrevendo os objetos tal como seriam vistos (como nos princípios clássicos).

Normalmente, as pinturas cubistas possuem ângulos retos, planos geométricos, como formas descontínuas  exploradas por estes pintores cubistas. Portanto, num quadro cubista, as coisas existem a partir de relações que estabelecem umas com as outras. Sua aparência muda de acordo com o ponto de vista pelo qual são olhadas. Segundo Wilie Sypher, “O mundo é uma estrutura de relacionamentos variáveis e múltiplas aparências.”

Na visão dos pensadores

No cubismo tudo depende da perspectiva e das relações. A ideia da coisa em si, de algo absoluto, é derrubada pela visão com a qual os cubistas vêem e representam o mundo. Portanto, a realidade não está dada e constituída. Está sempre nascendo e crescendo. O mundo deixa de ser essa grande máquina cósmica, vista como algo inteiramente causal e determinado.

Podemos entender uma causa definida que gera um efeito definido, como a mecânica de Newton. Isto irá deixar de ser a base de toda a física, a partir das descobertas de Einstein. A teoria da relatividade e da física atômica vão esfacelar os principais conceitos da visão newtoniana do mundo. Nesta visão, temos  a noção de tempo e espaço absolutos, a natureza estritamente causal dos fenômenos físicos e o ideal de uma descrição objetiva da natureza.

De acordo com a teoria da relatividade desenvolvida por Einstein, o espaço não é tridimensional (largura, profundidade, espessura). Segundo ele, o tempo não constitui uma entidade isolada. Ambos acham-se intimamente vinculados, formando um “continuum quadridimensional”, o “espaço-tempo”. Nunca podemos falar do espaço sem falar do tempo. Observadores diferentes ordenarão diferentemente os eventos observados, ou seja, não existe só um anglo de visão finito, acabado.

Toda a estrutura do espaço-tempo depende da distribuição da matéria no universo. Ao contrário da visão newtoniana,  acreditava-se que o mundo podia ser descrito objetivamente, sem sequer mencionar o observador. Com isso, a concepção de um universo finito, tanto no tempo quanto no espaço, tanto no sentido de grandeza quanto no da pequenez, passa a ser questionada e recusada.

Não existe átomo que não seja divisível. Temos uma partícula última que estabelece um limite para a subdivisão da matéria e para o conhecimento. Estamos destinados a um movimento infindável do pensamento e ação. É a retomada da concepção do mundo.  Segundo Heráclito de Éfeso (filósofo grego): um mundo em perpétua mudança, um eterno vir-a-ser, um fogo eternamente vivo, que se acende e se apaga na mesma medida.

Nietzsche vai tratar essa questão como a “vontade de potência”, ou seja, o vir-a-ser que não conhece nenhum cansaço, nenhum fastio, que não tem um ponto final.

Freud e a psicanálise vem nos trazer esse mundo do inconsciente, esse mundo dos sonhos para além do mundo cotidiano, externo, visível. ( Leia “A Formação do Ator na Cena Contemporânea” – seção de Teatro).

Conclusão

Estando no final do séc XIX e início do séc XX, todo esse contexto vem abalar as estruturas rígidas de visão do mundo e do homem. E o artista, como um ser de visão vai perscrutar e perceber isso de uma maneira especial. E a partir da sua sensibilidade, indagações, inquietação, vai tecer com a sua arte, esse novo olhar inaugural do mundo e do homem.

Assim, o cubismo vai deixar de recorrer às convenções fechadas. Com isso o centro único de referência determinava que o mundo fosse visto por um só olho, imóvel. Renunciam a este ponto de vista ciclope e buscam sugerir por perspectivas múltiplas. Daí despontando um mundo visto por um ou vários homens que se movimentam, modificando assim, os ângulos da visão.

Para o artista, “Olhar é um ato” e o pintor nos faz tomar consciência de que o mundo real é um mundo construído. E de que outros mundos são, portanto, possíveis. Passa-se de uma visão fechada, finita, para uma visão aberta, infinita, no campo das probabilidades.

Divisão no cubismo

Podemos dizer que a pintura cubista, se divide em três etapas:

  • O Cubismo Cezzanniano (1907-1909), dominado por um desejo de estruturar a obra desde os seus próprios elementos, mediante a decomposição geométrica.
  • O Cubismo Analítico (1910-1912), em que os cubistas aproveitavam um limitado número de objetos e destruiam-lhes a integridade individual. Partes do corpo misturavam-se com partes de mesa e com partes de garrafa e um copo sobre essa mesa. É o abandono da tradição de um único ponto de vista, utilizando diversos ângulos de visão de um objeto. Introduzem o elemento tempo ou movimento em suas composições, realçando a função não-representativa da pintura.
  • O Cubismo Sintético (1913-1914), em que as cores adquirem maior contraste e os planos se simplificam numa clarificação do tema. Com isso, envolve a construção de objetos (com tinta ou outros materiais) de modo efetivo sobre a tela.
  • O Cubismo literário se assume definitivamente em 1913, quando Apollinaire publica uma coletânea de trabalhos críticos “Meditações Estéticas: a pintura cubista”, e um livro de poemas “Alcoosls”.

Nascendo novas experiências

Em 1912, Picasso usa um pedaço de tela para pintura a óleo num quadro e Braque cola em suas telas pedaços de papel de parede estampado como se fosse madeira. Inicia-se a técnica da colagem, criando um vivo contraste entre a realidade e o artificial.

Com este experimento,  outros materiais foram introduzidos no Cubismo Sintético, como caixas de fósforo, cartões ondulados, etc. Assim também com recursos técnicos (pente de decorador, normalmente empregado para imitar os veios de madeira), texturas físicas ( areia com tinta) e texturas ópticas ( áreas pontilhadas ou listradas).

O movimento cubista poderia ter ficado limitado às artes plásticas, se pintores e poetas não vivessem em estreita convivência. Como aconteceu, onde Picasso em 1905  encontrava com Apollinaire, pintores e poetas. Dentre estes: Max Jacob, André Salmon, Cendars, Reverdy, Cocteau, Marie Laurenci, os irmãos Leo e Gertrude Stein etc.), começam a integrar uma frente única ao movimento cubista.

Na literatura, o movimento cubista baseia-se, como nas artes plásticas, na simultaneidade e também no mesmo plano (como num quadro) de percepções, lembranças, conversas fortuitas, intuições, etc. Era equivalentes às formas cúbicas da pintura – livre associação de planos, olhar cinematográfico, collage de situações e conversações, monólogo interior. Um jogo com as formas, submetido a uma lógica, mas distanciado do racionalismo.

Em 1918, surge a obra de Apollinaire, que vai exercer a maior influência na poesia experimental contemporânea “Calligrammes”.

Braque

 Quadro de G. Braque

Calligrammes, de Apollinair

Calligrammes, de Apollinaire

O cubismo, nas suas expressões pictural e literária, pressupõe um jogo com as formas, submetido a uma lógica, mas distanciado do racionalismo.

O cubismo literário é, em parte, absorvido pelo dadaísmo e, sobretudo, pelo movimento surrealista, que surge em 1924.

Alguns artistas do movimento cubista

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