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Vanguardas Artísticas | Futurismo

Texto: Cristina Tolentino
cristolenttino@gmail.com

Como nasceu o futurismo

Foi na Itália, que o futurismo irrompeu como um vendaval, detonador de uma quantidade de idéias anarquistas na arte e na vida e contra o classicismo rigoroso, imposto pelas academias oficiais de arte de Roma.

O futurismo fez sua primeira aparição pública em 20 de fevereiro de 1909, na primeira página do jornal Le Figaro. Um manifesto repleto de frases retóricas e de radicalismos dialéticos. Mostrava as impetuosas alegrias do futurismo e a aceitação entusiástica do moderno mundo tecnológico. Isto incluiria máquinas, produção em massa, sons mecânicos, velocidade e a destruição de tudo o que era velho.

Carta do Manifesto Futurista

“Queremos destruir os museus, as bibliotecas e as academias de todas as espécies, e combater o moralismo, o feminismo e todas as torpezas oportunistas e utilitárias. Cantaremos as grandes multidões excitadas pelo trabalho, o prazer ou os motins, as marés multicoloridas e de milhares de vozes da revolução em capitais modernas. Cantaremos a incandescência noturna e vibrante de arsenais e estaleiros, resplandecendo sob luares elétricos, as vorazes estações devorando suas fumegantes serpentes…as locomotivas de peitorais robustos que escavam o solo de seus trilhos como enormes cavalos de aço que têm por arreios, poderosas bielas motrizes, e o vôo suave dos aviões, suas hélices açoitadas pelo vento como bandeiras e parecendo bater palmas de aprovação, qual multidão entusiástica. Lançamos da Itália para o mundo este nosso manifesto de violência irrefreável e incendiária, com o qual fundamos hoje o Futurismo, porque queremos libertar esta terra do fétido câncer de professores, arqueólogos, guias e antiquários.”

Este primeiro manifesto, fundador do Futurismo, exalta a ação, a violência, a força, a agressão, o dinamismo, a velocidade, a transformação perene.

Fillipo Tomaso Marinetti (1876-1944), foi o promotor e redator dos principais manifestos futuristas.

Uma forma de velocidade

Na obra de arte, o futurismo partiu de uma operação do universo para introduzir o dinamismo. Isto fazia com que o objeto em repouso, representado na tela, fosse concebido como um movimento potencial, desagregando em várias linhas de força.  Simultaneidade, multidimensionalidade, sobreposição, interpenetração era uma das linhas de força. “Os pintores sempre nos mostraram as coisas e as pessoas diante de nós. Nós colocaremos o espectador no centro da pintura.”

A nova época, dominada pela técnica, correspondia uma arte dinâmica, representando o ritmo rápido em que se movia todas as coisas: “chegamos ao último degrau dos séculos! Por que olhar para trás? O tempo e o espaço morreram ontem. Vivemos já no absoluto, visto que criamos a velocidade eterna e o onipresente.”

Satisfeitos com o que consideravam o esplendor do mundo e a nova forma de beleza – a velocidade – buscaram acabar com todos os sinais do passado. Desta forma, para eles “a beleza agora só existe na luta. Uma obra que não seja de caráter agressivo não pode ser uma obra-prima…”

Segundo manifesto

O Segundo Manifesto, dirigido “aos jovens artistas da Itália”, redigido pelos pintores Umberto Boccioni, Luigi Russolo e Carlo Carrá, sob a supervisão de Marinetti, foi proclamado no Teatro Chiarella, em Turim, a 8 de março de 1910.

O Manifesto dos pintores futuristas exigia firmemente uma nova arte para um novo mundo e denunciava todas as vinculações das artes com o passado: “Um varrer geral de tudo quanto é assunto velho e gasto, com o objetivo de expressar a voragem da vida moderna, uma vida de aço, febre, orgulho e velocidade temerária.”

Desenvolvendo uma nova percepção dos objetos característicos dos novos tempos – o automóvel, o trem, o avião, a máquina – os futuristas representaram nos seus quadros, as forças físicas ou mecânicas, que intervêm nos agentes do movimento: “Um carro de corrida, sua carroceria ornamentada por grandes tubos que parecem serpentes com respiração explosiva…um automóvel estridente que parece correr como uma metralha é mais belo do que a Vitória Alada de Samotrácia ( a famosa escultura helenística no Louvre)…”

A primeira grande mostra de pintura futurista teve lugar em Milão, em 30 de abril de 1911.

Em fevereiro de 1912, realizou-se em Paris, a primeira exibição coletiva dos futuristas, seguindo depois, para Londres, Berlim, Bruxelas, Hamburgo, Amsterdã, Haia, Munique, Viena, Budapeste, Breslau, Frankfurt, Wiesbaden, Zurique e Dreden.

Manifesto literário

Na literatura, o futurismo lança seu manifesto em 1912, intitulado “Manifesto Técnico da Literatura Futurista”, propondo a destruição total da sintaxe e da pontuação. Não uma frase-associação (como no cubismo), mas pura sucessão de “palavras em liberdade”, um precedente da escrita automática dos surrealistas. Propuseram também, a suspensão do eu no poema e a suspensão do adjetivo e do advérbio.

O futurismo foi o primeiro movimento de vanguarda que proclamou os limites da literatura e rompeu com uma certa sacralidade literária, ultrapassando as fronteiras do literário para recuperar uma relação direta com a vida. Apesar de ter alguns adeptos durante um certo tempo, o futurismo literário reduziu-se praticamente às atividades de Marinetti e seu grupo e à publicação de mais de 40 manifestos.

Marinetti nasceu em Alexandria (1876) e foi educado na França. Passou pele Universidade de Gênova, regressando a Paris, onde iniciou com êxito sua carreira de escritor, publicando “Le roi Bombance”. Foi, no entanto, com o Primeiro Manifesto Futurista, que Marinetti deu começo à sua ação de autêntico propagandista de um movimento, do qual se autoproclamava dirigente absoluto.

O futurismo interpretou a modernidade sob o prisma imperialista (campanha para a conquista de Trípoli, em 1911), nacionalista e militarista (campanha para a intervenção na guerra mundial, desde 1914).

Pergunta-se: após a experiência de quatro anos de guerra, seria ainda possível cantar ingenuamente as maravilhas da máquina e da tecnologia?

Apesar de tudo, Marinetti leva suas posições às últimas conseqüências: em 1919 funda o agrupamento pré-fascista dos “arditi” e se lança numa atividade abertamente política, em apoio ao fascismo italiano. Dez anos mais tarde, Mussolini reconheceu sua dívida em relação ao futurismo e introduziu o “anti-acadêmico” Marinetti na Real Academia da Itália.

Ainda em 1919, iniciou-se o experimentalismo no “teatro sintético” futurista (sucessão de quadros rapidíssimos, estilo teatro “off” norte-americano). Experimentou-se ainda o “teatro aéreo” (shows acrobáticos).

Mas em 1920, começou as deserções do movimento futurista e em 1924, foi a sua decadência. O fascismo, que deveu não só na sua retórica como na sua estética ao futurismo, acabou com o movimento, embora de forma não violenta.

Marinetti morreu praticamente marginalizado em Belgrado, a 2 de dezembro de 1944.

Abaixo, segue fotos, quadros, folhetos e cartazes referentes ao futurismo.

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