O Ator: O Poeta da Cena
Teatro Contemporâneo

O Ator: O Poeta da Cena

História do Teatro |  Teatro Contemporâneo

Texto: Cristina Tolentino
cristolenttino@gmail.com

 

O Ator: O Poeta da Cena

A arte do ator é uma teia de extrema delicadeza e de corajosa ousadia. Um percurso ávido, tecido pela paixão de conhecer o homem, o mundo, o cosmo, como uma necessidade implacável, apetite de vida, rigor cósmico, criação contínua.

Uma difícil e prazerosa arte de inscrever, com verdade, no tempo e no espaço da representação, os segredos da alma humana. Uma força criadora que apreende a interioridade ( as aspirações, os fluxos secretos do desejo) e se inscreve na exterioridade.

Uma trajetória, na qual o importante não é o se assentar no que foi acumulado, não é o capitalizar as habilidades técnicas e as teorias, nem passar por provas de genialidade e sim o enfrentar o desafio diário em abraçar as suas precariedades, as suas contradições, os seus limites, tendo como grande desafio, transformá-los em matéria expressiva, em algo ainda não nascido, fazendo-o nascer.

Uma arte em vida, dinâmica, em movimento, em ação, germinada por esse desejo invencível do vir-a-ser. Uma representação habitada por marcas de sua própria história, gravadas em sua memória, escrita em sua própria carne.

Um trabalho orgânico, onde o ator coloca a sua humanidade não de maneira desatinada e descontrolada.

Uma matemática criadora, embasada por uma técnica que garante qualidade, rigor, precisão e que vai possibilitar ao ator locomover-se, construir – se e se tornar uma presença ativa em cena, ou seja, o ator é ao mesmo tempo material e organizador de seu trabalho.

Ele deve ser um compositor a cada dia. Todos os dias ele esculpe e compõe a sua obra: ele mesmo, obra viva do teatro. Todos os dias ele escreve uma poesia com o seu corpo.

Por isso, uma obra poética – porque capaz de nos enlevar para além de mundos conhecidos, permitindo – nos entrar em contato com o nosso ser essencial.

O teatro é a arte de reavivar memórias, busca atingir o ser do homem, se comunica em um outro plano, diferente da realidade cotidiana, superficial e inútil.

Rompe a linguagem para tocar a vida. Transmite verdades que de outro modo permaneceriam ocultas. Traduz o intraduzível. Torna visível o invisível Um ato revelador que exige coragem e generosidade.

Eis a trajetória do processo de formação do ator. Uma prática sedimentar, com camadas de razão e emoção, depuradas pela ação do tempo milenar, mostrando como a força de uma arte tão antiga continua atual e múltipla, possibilitando o ato único de alta comunhão e celebração e “nos imbuindo de um ardente e passageiro sabor de outro mundo, no qual nosso universo presente esteja integrado e transformado”, como diz Peter Brook.

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