O Festival de Teatro de Atenas
Teatro Grego Parte I

O Festival de Teatro de Atenas

História do Teatro | O Festival de Teatro de Atenas

Texto: Cristina Tolentino
cristolenttino@gmail.com

 

Teatro de Atenas e suas convenções

Tudo começou por volta de meados do séc. VI quando o tirano democrático Pisistrato transferiu o antigo e rústico festival dionisíaco dos frutos, para o coração de Atenas.

Com as Dionísias Urbanas, que tinham lugar no fim de março, o povo recebeu um magnífico festival popular em que podia cimentar seus interesses e exibir as glórias de seu Estado aos negociantes que visitavam a cidade nesta época.

As Dionísias Urbanas eram consideradas tão sagradas, que violações menores eram punidas como sacrilégio. O Festival começava suntuosamente com uma procissão que escoltava uma antiga imagem de Dioniso, literalmente o “deus pai” do teatro, ao longo da estrada que conduzia à cidade de Eleutéria e regressava depois a Atenas à luz de tochas.

A imagem era então, colocada na orquestra do teatro, com rituais apropriados e assentos especiais eram reservados aos sacerdotes do deus, vestidos com grande pompa.

Acrópole de Atenas

Acrópole de Atenas

No tempo de Péricles à frente do Estado entre 443 e 429 a.C., a grande Dionisíaca era uma festividade de sete dias de duração. O primeiro dia era dedicado ao proágon, apresentação de todos os participantes no recinto coberto do Odeon.

No segundo dia, uma procissão, pompé, se dirigia para o âmbito sagrado do templo de Dioniso, onde se sacrificava um touro, seguindo-se às provas ditirâmbicas, que consistiam em concursos corais por coros de homens e rapazes. O terceiro dia se reservava à comédia, com cinco dramaturgos na competição.

Do quarto ao sexto dia, com cinco representações diárias, havia o festival de tragédias – três tragédias e um drama satírico fálico pela manhã e uma ou duas comédias à tarde.

Três dramaturgos competiam, cada um com três tragédias e um drama satírico. No último dia, reunia-se a ekklesia, ou assembleia pública, para a entrega dos prêmios, com ampla discussão sobre o desenrolar do festival.

A preparação para o concurso era feita algum tempo antes do festival. As peças eram cuidadosamente selecionadas pelo primeiro leitor profissional do teatro, o funcionário público ou arconte, que também escolhia o intérprete principal ou protagonista.

Cidadãos abastados eram designados por lei (a coregia) para arcar com as custas de um coro de doze ou quinze homens, sendo este um dos diversos deveres estatais atribuídos a eles até o empobrecimento destes, durante a Guerra de Peloponeso.

A partir de então, o Estado passa a assumir o encargo. O corego designado responsabilizava-se pela formação do coro; devia ceder um local para os ensaios; adquirir o equipamento necessário à representação (adereços, máscaras, etc); garantir a cada executante (atores, músicos, dançarinos, figurantes, funcionários), um salário diário.

Quando os poetas renunciaram (no princípio do século IV) a interpretar e a dirigir as suas próprias peças, o corego também pagava a um corodidascalo (diretor dos coros e muitas vezes da música e da dança) e a um protagonista.

Além das Dionisas Urbanas, havia um festival mais antigo, conhecido pelo nome de Lenianas, que tinha lugar mais ou menos no fim de janeiro, que também começou a incluir concursos trágicos e cômicos.

Mais tarde nas aldeias e cidades da Ática, conhecidas por Dionisas Campestres, começaram a oferecer produções dramáticas, sendo que as melhores apresentadas no porto marítimo de Pireu.

O povo, na sua totalidade, está presente em todas essas jornadas solenes que são o seu orgulho e a sua conquista. Os concursos dramáticos das Dionisas Urbanas, transformados em verdadeira instituição do Estado, davam aos cidadãos a possibilidade de afirmar a ordem material e espiritual da cidade.

As grandes Dionisas impunham a sua grandeza religiosa e social. Estas festas eram um dos processos mais eficazes de reanimar a coragem, de exaltar os instintos e os sentimentos de embriaguez sagrada de Dioniso e na beleza da tragédia.

A magia dos ritos era assim substituída pela magia da Arte do TEATRO. Os conflitos do homem e dos deuses, do indivíduo e do Estado, repercutiam-se em cada um e na cidade inteira.

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