Rosangela Guerra (Nova Escola)

"Ele fica enrolando uma mecha de cabelo no dedo enquanto conversa com a gente. Fala mansa de bom mineiro. Lino de Albergaria já viajou por 20 países, morou na França, no Rio e em São Paulo, mas quando se cansa volta para Belo Horizonte (MG), a cidade onde nasceu. No quarto de seu apartamento, onde escreve todas as manhãs, a janela se abre para a serra do Curral. E é para esse horizonte de montanhas que Lino fica olhando, esperando a inspiração. Quando as idéias começam a chegar, entram direto no computador e vão saindo em linhas e mais linhas de texto. Tão diferente do tempo em que começou a escrever seus livros, em meados dos anos 80, época em que enchia pastas com recortes de jornais e revistas. Hoje ele só usa a cabeça, livros para consulta, o computador, o dicionário Aurélio e um rádio ligado para tocar qualquer coisa, "que entra por um ouvido e sai pelo outro", como ele diz. Da cabeça, Lino tira pedacinhos de conversa e cenas que presenciou e que façam despertar uma idéia luminosa. Cada história é escrita quatro vezes. Antes da última versão, o texto é colocado na gaveta para "descansar um pouco".


Walter Sebastião (Tribuna de Minas)

"Lino de Albergaria é mineiro de Belo Horizonte, estudou editoração e literatura infanto-juvenil na França (...). É ele quem conta que é complicado escrever livros para crianças muito jovens, que tem de usar estruturas simples (o que não quer dizer fazer uma coisa simplória) e com pouco texto procurar contar uma história diferente. Existe, ainda, toda uma preocupação com o vocabulário, já que a criança tem pouco tempo de domínio da linguagem.

Falando da produção brasileira, diz que a literatura cresceu a partir (...) da presença de livros de autores nacionais na escola. A este fato somou-se o aparecimento de uma nova geração de escritores, com uma nova visão do texto e de mundo, que questionavam a literatura tradicional, o didatismo chato e o moralismo. Ele explica que a expansão editorial foi contida pela crise econômica brasileira e que, hoje, já não se vive mais o boom desta produção que marcou época.

Como pontos positivos desta explosão de textos para crianças, Lino de Albergaria aponta a qualidade do texto, a riqueza de abordagem dos assuntos, o aparecimento de uma geração de ilustradores, o investimento editorial que foi feito na área. 'Os aspectos negativos ficam por conta do oportunismo que passou a existir a partir do momento em que estes trabalhos ganharam um mercado. Existiu mais quantidade do que qualidade propriamente dita', explica".