Ronaldo Simões Coelho - escritor






Autor, reconhecido internacionalmente, de livros de literatura infanto-juvenil, tem visto sua obra representar o Brasil nas feiras de Bolonha, de Guadalajara e tantas outras, assim como participa de eventos em todo o Brasil. Premiado pela Biblioteca Internacional da Juventude de Munique, tem diversos de seus livros merecendo o Selo de Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e outros selecionados para projetos como Meu Livro, Meu Companheiro. Um de seus livros recebeu o prêmio Octogone-Chêne, da França. Traduzida no México e na Bolívia, a obra de Ronaldo Simões Coelho se firma como das mais significativas no cenário da literatura brasileira. Seus textos curtos e bem-humorados cativam os leitores. Com 38 livros publicados, e alguns no prelo, vai continuar encantando gerações.

Onde você nasceu e como era a sua cidade?
Nasci em São João del-Rei, MG, há 75 anos. Cidade histórica, berço de Tiradentes, o herói da Inconfidência Mineira. Mas de muita gente mais, como Basílio de Magalhães (grande historiador, membro do IHG, um sábio), o inventor da Cera Dr. Lustosa (que curava dor de dente há mais de 100 e continua curando), do inventor do tinteiro econômico (Dr. José Viegas, que era dentista e ator de teatro), de um dos maiores violoncelistas do mundo, Santiago Sabino (da Filarmônica Real, em Londres), de dom Lucas Moreira Neves (que poderia ser papa), de Alexina Pinto (que foi a primeira folclorista do país) e muitos outros.

Como foi a sua infância?
Sete irmãos, casa cheia, árvores, bichos, brinquedos, primos, tios, avós, visitas, amigos, um mundão de gente. Fogão de lenha, forno de cupim, comidas deliciosas, cheiros bons de tudo, brincadeiras (pião, papagaio, mágicas, pique, cabra-cega, carniça, futebol, gude, natação, faroeste, xadrez, dama, tudo bom demais). E as férias na terra de minha mãe, Prados (cidade de 3000 habitantes, metade de músicos), onde havia os anões da Terra Caida, o Tarola, o Três Orelhas, o homem da mão postiça , a velha careca, o cavalo da meia noite, as festas da semana santa e do carnaval, os circos. E cinema, seriados com Capitão Marvel (SHAZAM!) e tantos outros heróis. E livros e mais livros e contação de histórias.

Como era a escola onde você estudou?
Quando entrei para o grupo escolar onde meus irmãos tinham estudado, Grupo Escolar Maria Teresa, tinha coisa boa (canjica de amendoim, por exemplo) e coisa ruim (o chamado auditório, que era uma reunião pra falar bem do ditador Getulio Vargas). Até hoje muitas das minhas professoras são minhas amigas, me visitam, lêem meus livros, adoro todas elas.

Quais eram os livros que você gostava de ler?
Li o Tesouro da Juventude dos 9 aos 12 anos. A biblioteca lá de casa era enorme. E havia a cem metros a biblioteca pública, onde um sábio, músico e sapateiro (como o pai de Andersen), me iniciou em Dom Quixote e outros clássicos. E Erico Veríssimo, Monteiro Lobato, aventuras de Tarzan, tudo que passasse pela minha frente.

Quando você era criança, já sonhava em ser escritor?
Sempre quis ser médico e escritor. Consegui.

Quando você começou a escrever?
Desde que aprendi a ler e a escrever. Minha primeira história eu escrevi aos 7 anos. Era sobre uma tico-tico chocando ovo de pássaro preto. Nunca a publiquei.

Qual foi o primeiro livro que você escreveu?
O primeiro livro publicado foi “Dois embaixo e um em cima” – hoje esgotado - que vai ser reeditado, sobre um macaco em via de extinção, o monocarvoeiro.

Por que você escreve?
Porque tenho 7 filhos e vivia contando histórias para eles e um dia minha filhinha falou: “pai, para de contar e vai escrever antes que você esqueça da história”.

Alguma história que você escreveu já aconteceu de verdade?
A maior parte. Tia Delica é sobre minha tia-avó, uma fada que morou lá em casa; o Tico-tico da perna quebrada foi porque cheguei em casa e meu caçula estava chorando de dor com a perna quebrada e assim muitos outros.

Qual o poema de Cecília Meireles de que você mais gosta?
Tudo de “Ou isto ou aquilo”. Adoro também Celina Ferreira, infelizmente pouco conhecida, mas elogiada por Drummond, Bandeira, Guignard e tantos outros.

O que você gostaria de falar para as crianças?
Que, se pudesse, ia ser sempre criança.

Entrevista realizada por Leonor Cordeiro, do site O Mundo Encantado de Cecília Meireles
Setembro de 2007