Crônica Jethro Tull
Crônicas Musicais

Crônica Jethro Tull

JETHRO TULL – O aqualung da flauta mágica

Crônica da Era do Rock, por Rodrigo Leste

Na véspera da morte do meu pai, Sylvio Leste, assisti no Ginásio Mineirinho, em BH, o show da famosa banda Jethro Tull. Apesar da acústica do ginásio não ajudar, o som dos ingleses contagiou a plateia. Dentre os que estavam na pista, próximos de mim, vários sabiam de cor as letras das músicas, gritavam pedindo essa ou aquela canção, pulavam e celebravam a rara oportunidade de assistir de perto aos seus ídolos de longa data.

Na época eu fazia uns free lancers pra alguns jornais de BH e fui escalado por um deles pra cobrir o show do JT. Quando o espetáculo terminou fui rapidinho pro hotel onde os caras estavam hospedados. Na portaria, a inevitável chusma de curiosos e fãs. Logo desceu de um carro o talentoso Ian Anderson, um sujeito meio baixo, atarracado, com pinta de estivador. Ele é imediatamente cercado pela galera. Me aproximei também tentando conseguir a tal entrevista. Com muita calma, Ian explicou que não poderia atender ninguém. Disse que ia direto pro seu quarto fazer uma ligação pra sua mulher na Inglaterra. Lembro que ele me deu um autografo que não sei onde guardei.

Chegando em casa a secretária eletrônica trazia o recado de minha mãe pedindo que eu fosse correndo pra sua casa. Dizia aflita:

— Seu pai não está nada bem!

Lá chegando, encontrei Dr. Sylvio caído no chão da sala, de pijama. Minha mãe, Maria do Carmo, falou:

— Ele tentou descer a escada e desabou.

Meu irmão, Beto, apareceu e carregamos nosso pai de volta ao quarto no segundo andar. Depois de acalmar as coisas por lá, voltei pra minha casa. Na manhã seguinte fui despertado pelo telefone com a notícia de que meu pai tinha falecido. Duro golpe, ele não tinha mais do que 73 anos e, segundo consta, foi, como o craque Garrincha, vítima da ingestão contínua de cortisona. O medicamento tomado em excesso, derrubou seu sistema imunológico. Uma pneumonia fulminante encontrou brecha para em poucas horas levá-lo ao óbito.

Voltando ao som, declaro que admiro o Jethro Tull (O álbum Stand Up é o meu predileto), mas não posso afirmar que seja a minha banda favorita. Curto muito o estilo, as letras, a flauta de Ian Anderson que assume o protagonismo, os arranjos, com destaque para a guitarra de Martim Barre. Aqui abro um parêntesis pra dar realce à opinião do meu amigo escritor, poeta e baixista Fernando Righi: “O som do Jethro Tull é uma fusão complexa e única: começou para ser uma banda de blues, mas os integrantes tiveram espaço para acrescentarem alguns ingredientes, como o clássico, jazz, folk. Nesse trabalho foi fundamental a contribuição do guitarrista Martin Barre, membro da banda de 1969 a 2011. Ele sempre se orgulhou de atuar nos arranjos das músicas, muito mais que ajudar a compô-las, assegurando que os álbuns “Songs From The Wood”, “Heavy Horses” e “Crest of a Knave” são contribuições diretas. Como muitos guitarristas de sua geração – Jimmy Page, Neil Young ou Nick Drake – Barre não estava alheio aos avanços do folk desenvolvidos pelo lendário guitarrista Bert Jansch, do Pentangle e trouxe um som mais pesado e blues ao folk-rock que tocou com o Jethro Tull. Na minha opinião, é um dos melhores guitarristas de rock, embora subestimado.”

Aliás, tive a oportunidade de assistir ao show dele, Martim Barre, no Teatro Palladium, em BH, em março de 2020. Barre fez uma retrospectiva dos hits do JT, trazendo arranjos nos quais sua guitarra substituía a flauta e tomava a frente das canções. Em abril agora o JT voltará ao Brasil. Ian Anderson remontou a banda e Barre já não é mais o guitarrista.

Pra encerrar, uma curiosidade: o Jethro Tull adotado pela banda é o nome de um agricultor e inventor inglês que em 1701 criou e patenteou uma máquina agrícola, a semeadora.

Colaboração no texto: Fernando Righi

Revisão: Hilário Rodrigues

Colaboração midiática: @rodrigo_chaves_de_freitas

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