O Ator, A Máscara e a Indumentária
Teatro Grego Parte I

O Ator, A Máscara e a Indumentária

História do Teatro | O Ator, A Máscara e a Indumentária

Texto: Cristina Tolentino
cristolenttino@gmail.com

 

Festivais Dionisíacos

A introdução dos atores trágicos e cômicos nos concursos dos festivais dionisíacos foi o primeiro sinal de um itinerário ascendente, rumo à especialização que culminou no séc. IV a.C.

O processo começou em 449 a.C., quando a escolha do protagonista passou a ser feita pelo Estado e foi nessa mesma ocasião que os concursos para atores foram instituídos.

No século seguinte, surgiram as corporações de atores ou colégios dionisíacos, chefiados por protagonistas ou profissionais de outras artes, como os músicos, com função de aperfeiçoamento e também de produção de peças.

A sua composição era eclética, abarcando desde atores trágicos e cômicos a poetas e cantores. As mulheres estavam excluídas, como sempre estiveram do palco grego que se pode chamar de oficial.

Só nas formas populares do mesmo, é que tiveram lugar. Eram necessárias as suas habilidades pessoais, uma voz apropria da para amplos espaços e para o canto.

Dionísio e o Teatro

Dionísio e o Teatro

Na tragédia, a veste principal era o quiton (chitón), diferente do cotidiano por ter mangas largas e cores variadas e pela cintura muito alta, disposta logo abaixo do busto.

O coturno (kóthornos), sapato de solas grossas e pintadas e o onkos (alto adorno da cabeça acima da máscara) davam ao intérprete dimensões fora do normal.

O quiton era complementado com outras peças externas ou mantos sobre esse traje fundamental. Outros elementos podiam ser acrescentados para melhor caracterizar o personagem: figuras de países estrangeiros, que traziam alguns sinais das suas regiões; heróis usavam coroas; as cores assumiam valor simbólico; o traje da comédia tinha o propósito de acentuar o ridículo e se tornou praxe recheá-lo à frente e atrás, recurso que se denominava somátion.

Houve modificações conforme o período da comédia. Resquícios do corte o dos ritos fálicos estiveram presentes na comédia antiga, a exemplo das máscaras de animais e do falo artificial, que só a comédia nova faria desaparecer.

Tão pesadamente paramentados, os movimentos dos atores trágicos eram necessariamente lentos e seus gestos amplos.

A mais forte característica do ator grego, estava na máscara cujas relações com os ritos primitivos, eram evidentes. Nos ritos primitivos a máscara ritual não é um objeto qualquer.
 
Tem um sentido sagrado, é um objeto sagrado. A máscara ritual encerra em si forças. É uma transferência de energias. Nos rituais as máscaras têm uma função, estão ligadas a ações, ações essenciais.
 
Têm também um sentido de mutação, metamorfose. A máscara ritual transcende. Dá vida a um ser divino. É uma simulação de poderes divinos. Concretiza conceitos abstratos.
 
Confere uma qualidade espiritual ao homem. Representa o espírito dos mortos e animais. Ao representar um determinado animal, a máscara transfere qualidades e poderes desse animal.
 
Quando esculpida em madeira, as qualidades sagradas das árvores impregnam a máscara e se transferem depois aos seus portadores. Em muitas comunidades primitivas contemporâneas, entre elas as comunidades indígenas, a máscara está ainda viva.
 
Segundo Jacob Klintowitz, a máscara é para os índiosum fator de equilíbrio e de transcendência, é uma experiência social e espiritual nesta vivência ritualística e mítica.
 
Ela continua sendo para os índios, um elemento de ligação entre o homem e o mundo espiritual.

Quanto ao seu visual, as máscaras primitivas são abstratas. Elas partem do real (formas geométricas, linhas, triângulos, indicando nariz, olhos etc), mas expressam o não real, diz Kirby.
 
As máscaras primitivas ao representarem o espírito do homem ou do animal, apresentam um não-homem, um não-animal, mostram um ser mutuante, algo entre homem e animal, são como que uma ligação entre um e outro.

Os rituais apresentam fragmentos da vida terrena, mas insinuam uma outra realidade. São manifestações do real e do não-real, ilusão e realidade, partindo de dados reais, apresentam algo além.
 
Os rituais são cerimônias onde se realizam determinadas ações que provocam na mente dos seus participantes uma emoção que lhes confere uma espécie de iluminação. Nos rituais as ações se repetem.
 
E se repetem porque representam algo essencial e verdadeiro num determinado momento e para uma determinada comunidade. Os rituais se utilizam de gestos, ações, ritmo, palavras, objetos e máscaras.
 
Através dos rituais, os mitos eram transmitidos e revividos. Mito e Rito, sempre ligados. Explicações de fenômenos naturais e suas relações com o sobrenatural.
 
Nos rituais ocorre um desdobramento imediato de personalidades. Ocorre uma identificação com o que se pretende imitar, seja com uma entidade sobrenatural, seja com forças da natureza ou com animais.
 
É o homem que, saindo de seu quotidiano se transforma, acarretando modificações ao seu redor e transformando o seu ambiente, apresentando outra realidade. Princípios esses básicos do teatro.

A máscara, como o teatro, amplia conceitos, amplifica a vida, mostra algo além do que aparenta.

“À medida que os rituais decaíram, conforme observou Odette Aslan, “a máscara se dessocializou e deixou de representar o divino, passou a representar apenas conceitos genéricos, mas nunca deixou de trazer em si a sua essência.”

Assim, as complexas e fortes histórias da mitologia grega, originaram as grandes tragédias. E a tragédia, tratando de deuses e heróis, assimilou o uso da máscara para representá-los simbolicamente.
 
As máscaras mantidas pelo teatro grego eram um poderoso meio de prender a atenção, criando excitação e expressando a essência do drama. Todos os atores usavam máscaras alongadas e grotescas de linho, cortiça e madeira, que se tornaram maiores com o tempo.

Máscaras especiais eram exigidas por personagens mitológicas e alegóricas como Io, de chifres, Argos de muitos olhos, as Fúrias, cujos cabelos eram serpentes, e figuras alegóricas como a Morte, a Forca, a Loucura.

As máscaras criavam o clima mítico da tragédia, e grotesco na comédia. O que a máscara da tragédia perseguia em solenidade e gravidade, a da comédia buscou em grotesco e ridículo.

Já se percebe na máscara grega o propósito de fixar tipos, destinação que a comédia dell’arte levaria ao extremo, na Itália do Renascimento.
 
Fator importante no uso da máscara era o ónkos, deformação piramidal da cabeleira sobre a mesma, bem como a dos lábios, concebida para ampliar o alcance vocal.
 

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