Os Beat’s
Geração Beat

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Geração Beat | Os Beat’s

Bob Dylan

Bob Dylan

Por: Pedro Kalil

Uma literatura, que preza pela reflexão, pelo nosso posicionamento no mundo e por mostrar de uma forma crua e ao mesmo tempo tão poética, o nosso cotidiano, o como lidamos com os nossos sentimentos, relações e vontades.

Textos falando de como era o meu café da manhã, ou como gostaria de andar sozinho por horas, são completamente aceitos nessa geração. É um movimento também, em que encontramos muitos escritores solitários e até que gostam da solidão.

Talvez foi o primeiro movimento literário que teve uma ligação direta com a música. Como representantes mais fortes da arte da voz, violão e poesia estão Bob Dylan (sempre muito ligado a Ginsberg) e a dupla Simon and Garfukel, falando em grandes concertos e shows de suas apreciações sobre drogas, vida, amores, paz, liberdade, solidão, sobre “crescer” e sobre ter vontade de mudar e assim viver livremente…

O movimento apareceu no cinema também, e muitos desses beats fizeram Hollywood se tornar realmente forte. Ali na década de 70, filmes como On The Road e The Graduet (esse último contava com a maravilhosa trilha sonora de Simon And Garfunkel)…

Os movimentos hippies e punks, podem ser exemplos claros da influencia beat no mundo, aliada a pop-art, musica folk e filmes falando de liberdade ou bem sentimentais, sobre mudanças em nossos sentidos e na nossa vontade de mudar o mundo. Pervertidos ou não, arquitetos ou destruidores, não importa, foram apenas pessoas que analisaram nosso cotidiano e quiseram nos fazer pensar, e mudar as coisas que nos incomodam realmente.

Trecho da música “BLOWIN IN THE WIND” – Bob Dylan


“How many roads must a man walk down
Before you can call him a man?
How many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand?
Am And how many times must the cannonballs fly
Before they’ve forever banned?
The answer my friend is blowing in the wind
The answer is blowing in the wind”
Bob Dyaln – Blowing in the wind.


(Por quantas ruas um homem deve andar
Antes de chamá-lo de homem?
Por quantos mares deve um pombo branco velejar
Antes que durma na areia?
E quantas bolas de canhões devem voar,
Antes que sejam pra sempre banidos?
A resposta meu amigo, está sendo levada pelo vento,
A resposta está sendo levada pelo vento…)

Ian Curts

Ian Curts

UM POEMA NO CORAÇÃO

Por: Pedro Kalil

É bem difícil imaginar literatura nos últimos 20 anos, o que foi criado de novo e o que realmente foi importante. Depois duma chuva de idéias, duma revolução de costumes e cultural, é dificil se conformar com um ócio artístico. Durante todo um século, aconteceram revoluções e revoluções e nos últimos 20 anos, nada de realmente novo surgiu.

Mas um cantor, com toda a sua dor, mártir de como sentir o vazio do fim de século e de como sucumbir-se, na dor de uma pós-revolução, ao tédio e ao desespero num canto frio do mundo: já se falou muito sobre Ian Curts, cantor do grupo Joy Division, sobre sua dor, sobre sua voz e como o grupo influenciou em toda uma musicalidade que surgiu dali em diante (Echo and The Bunnymen, U2, Radiohead). Sua influencia é bem nítida até no Brasil (de onde você acha que Renato Russo tirou sua danã mexendo os braços?), mas muito pouco se falou da sua importância literária.

Ele não é o tipo de escritor pronto para ganhar o prêmio nobel, mas é sim, uma pessoa que expressou nos seus escritos, o tédio do fim do século e a dor duma pós-revolução. É certo que muitas pessoas já falaram sobre isso, mas as suas poesias, clinicamente perturbadas, são o reflexo da depressão, do vazio e do medo.

Seus trabalhos nunca foram publicados em forma de livros e sim em discos, lançados com seu grupo. Mas por que não dizer que ele é um grande escritor? Acho que um escritor não se resume a quem lança livros e sim a quem escreve, ou ao menos pensa e usa de diferentes formas para expressar aquilo que sente. Ian Curts usou a sua voz e as músicas de sua banda. Seus tratados sobre sucumbir, seu niilismo e seu rancor diante deste um mundo, estão contidos em suas expressões emocionadas, reflexo da sua alma e do seu desespero.

O disco closer (ou livro, ou chame de como quiser) é a maior de suas obras. Versos como “Existence well what does it matter? – Iexiste on the best terms I can – The past is now part of my future – The present well is out of hand – Heart and soul, one will burn” (Existência, bem, o que isso importa? – Eu existo do jeito melhor que eu posso – O passado agora é parte do meu futuro – O presente, bem, esta fora de controle – Coração e alma, um vai queimar), são encontrados ali, junto a uma música sombria, amargurante e desesperada.

Ian Curts foi alguém que sofreu grandes dificuldades em sua vida: casou cedo, teve uma filha, depois descobriu que tinha ataques epilépticos, trabalhou num sanatório, viu a loucura em seus olhos, entre outras coisas. No dia 20 de maio de 1980, depois de assistir a um filme do Herzog, chegou em casa, bebeu os últimos dedos do conhaque e escutando o The Idiot do genio Iggy Pop, se enforcou na cozinha… isso é apenas um reflexo de uma dor universal, com a qual uma pessoa normal não soube lidar. Sua poesia ainda ecoa pelo mundo, sua dor ainda é sentida e sua alma, bem… fiquem com os versos dele: “Love will tear us apart”.

INSIGHT (Percepção)

Guess your dreams always end, they don’t rise up just descend
Tenha certeza que seus sonhos sempre acabam, eles não crescem apenas caem

But I don’t care anymore, I’ve lost the will to want more
Mas eu não ligo mais, Eu tenho perdido a vontade de querer mais

I’m not afraid not at all, I watch them all as they fall
Eu não estou com medo, não absolutamente. Eu vi eles todos, como eles caem

But I remember when we were young
Mas eu lembro de quando éramos jovens

Those with habits of waste, their sense of style and good taste
Aqueles com hábitos de desperdício, seu senso de estilo e bom gosto

Of making sure you were right, hey, don’t you know you were right?
De ter certeza você estava certo, hey, Você não sabia que estava certo?

I’m not afraid anymore, I keep my eyes on the door
Eu não tenho medo mais, Eu mantenho meus olhos na porta

But I remember
Mas eu me lembro

Tears of sadness for you, more upheaval for you
Lágrimas de tristeza por você, mais reviravolta por você

Reflects a moment in time, a special moment in time
Reflete um momento no tempo, um momento especial no tempo

Yeah, we wasted our time, we didn’t really have time
Yeah, nós gastamos nosso tempo, nós não tínhamos tido tempo

But we remember when we were young
Mas nos lembramos quando éramos jovens

And all God’s angels beware, and all you judges beware
E todos os anjos de Deus olham por, e todos os juízes olham por

Sons of chance take good care, for all the people out there
Filhos do acaso tenham bastante cuidado, para todas as pessoas fora daqui

I’m not afraid anymore, I’m not afraid anymore
Eu não estou com medo mais, eu não estou com medo mais.

Albert Camus

Albert Camus

Por: Pedro Kalil

Camus disse uma vez que filosofia é algo quase inútil, tirando a filosofia sobre suicídio. Seu único livro de ensaio (O Mito de Sísifo) fala exatamente sobre isso. Ele condena totalmente o niilismo como fuga fácil de nossos questionamentos.
 
Em seus romances, Camus coloca personagens em situações limites. Em seu livro mais famoso “O Estrangeiro”, o personagem Mersault é um homem comum, que mata um árabe na praia, sem nenhum motivo aparente. Mersault é preso e na prisão ele pensa sobre tudo aquilo que lhe havia acontecido. Em explosões de pensamentos, ele chega à conclusão de que a única coisa que não queria, era ficar sozinho.

“A Peste” é o romance em que Camus faz um estudo complexo sobre a sociedade, colocando toda uma cidade em situação limite. Uma peste cobre toda a cidade fazendo com que ela se feche para o mundo e comece a perceber como é o seu cotidiano, como deixamos de amar as pessoas, apenas pra amar nossas manias e conveniências. Em determinado momento do livro, ele, porém, pondera: “Se existe algo em que podemos ainda acreditar, é na compaixão humana.”

Camus era aliado a Sartre no existencialismo francês. Devido ao pocisionamento contra o socialismo russo, ambos brigaram. Camus condenava o totalitarismo ali presente e colocava alta a sua bandeira defendendo a paz e a liberdade. Talvez por sempre pensar que é impossível viver sem liberdade. Ele morreu em um acidente de carro, voltando de férias e então, Jean Paul Sartre reconheceu a importância da sua obra para o mundo ocidental.

Ganhou prêmio Nobel de literatura, visitou o Brasil (tudo está registrado no livro Diário de Viagem), deixou sua marca, numa época em que pouco a pouco os pensadores foram morrendo e toda uma revolução terminando.

Jim Morrison

Morrison
Morrison e Pamela

O cantor com sua namorada PAMELA

morrison

Da esquerda para a direita: Robby Krieger, John Densmore, Jim Morrison e Ray Manzarek.

Morrison

Após ser preso durante show em New Haven

Morrison

Morrison em concerto da Banda The Doors

Morrison no México

Morrison no México em 1970

Por: Pedro Kalil

“Eu sou aquele que, para ser, deve fustigar o que me é inato”, escreveu o escritor francês Antonin Artaud sobre a tarefa do artista moderno de penetrar dolorosamente nas camadas mais profundas de sua subjetividade, libertando-se das determinações exteriores e fazendo do próprio corpo um altar em que o espírito – no que este tem de abstrato e pretensamente universal – é imolado em benefício de uma escritura incandescente e intransferível.
 
O autor de O teatro e seu duplo formulava assim uma das palavras de ordem de um projeto que remontava às aspirações ao sublime dos românticos (Schiller, Blake, Wordsworth, Keats), às epifanias grotescas de Baudelaire e às estadias infernais de Rimbaud, desembocando no credo libertário dos surrealistas e, mais tarde, na anarquia alucinógena da geração beat.

Por seu vigor e longevidade, esse programa estético-existencial estaria destinado a resistir até mesmo a um mundo dominado pelas formas mais sutis de alienação e determinação: o mundo da indústria cultural e de sua “dessublimação repressiva”, segundo a expressão cunhada por Marcuse para designar essa engrenagem perversa em que o gozo passa a ser melhor controlado e docilizado na medida em que é intensificado por uma mercantilização que esteriliza seu fluxo outrora desordenado, caótico e, por isso mesmo, subversivo.

Obviamente, os mártires dessa resistência teriam de ser aqueles artistas que conseguiram estar no centro da civilização do espetáculo, utilizando os instrumentos da comunicação de massa para inocular, no coração daquilo que nos aliena, uma esperança de transcendência – ao preço da própria lucidez e da própria vida.
 
E, dentre esses artistas, nenhum outro encarnou melhor o mito trágico do herói da contra-cultura do que Jim Morrisom, o poeta, compositor e líder da banda de The Doors, que morreu em Paris há trinta e cinco anos, no dia 3 de julho de 1971.

O roqueiro que incendiou a cena pop dos anos 60 foi a personagem arquetípica de uma geração que reagiu violentamente ao clima asfixiante da sociedade norte-americana do auge da guerra fria e que buscou na literatura, no cinema, na música e nas drogas uma experiência de ultrapassamento, de rejeição do senso comum da classe média.

Filho de um oficial da marinha, James Douglas Morrison nasceu em 8 de dezembro de 1943, em Melbourne (Flórida), mas fixou-se na Califórnia depois de vários anos de peregrinação da família por diversas cidades dos Estados Unidos. Contra a vontade do pai, com quem sempre manteve um relacionamento tenso (a ponto de declarar em entrevistas que era órfão, embora o capitão Steve tenha sobrevivido ao filho), Jim cursou a Escola de cinema da Universidade da Califórnia (UCLA), onde conheceu Francis Ford Coppola – que muitos anos depois, ao dirigir Apocalypse Now (1979), prestaria uma homenagem amigo, incluindo na trilha sonora do filme a canção “The end”, clássico dos Doors, que foi uma espécie de metáfora musical do inferno da Guerra do Vietnã transposto pela tela pelo cineasta de “O poderoso chefão’.

No Natal de 1964, Morrison viu os pais pela última vez, pouco antes de o capitão Steve se mudar com sua mãe para Londres, onde serviu nas Forças Navais dos EUA na Europa. Em 1965, Jirn abandonou a UCLA depois da recusa, pelos organizadores de uma mostra destinada a avaliar o trabalho dos estudantes, de um filme experimental que ele havia produzido.

A ruptura radical com o passado, no entanto, deu lugar a laços muito mais viscerais. Na Escola de Cinema, ele conhecera Ray Manzarek, com quem passou a conviver em Venice Beach – pequena cidade litorânea perto de Los Angeles habitada por artistas movidos a LSD e que começavam a lançar as bases das comunidades hippies. Morrison mostrou alguns de seus poemas a Manzarek (que era tecladista da banda Rick and the Ravens) e logo surgiu a idéia de formar um conjunto, ao qual se juntariam o guitarrista Robby Krieger e o baterista John Densmore.

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